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SELFIE

NOTÍCIAS!

Muito se evoluiu desde as chapas de vidro banhadas em sais de prata até o atual CCD (Figura3), atualmente presente em todos os smartphones e câmeras digitais.

 

Hoje o acesso às câmeras fotográficas se tornou tão popular e sua forma de manipulação tão simples que pode ser facilmente opera-da por uma criança de 3 anos. A fotografia, mesmo a amadora, se inicia no século XIX como artigo de luxo, apenas algumas famílias de grande poder econômico possuiam uma câmera fotográfica.

 

Mais importante do que sua popularização é a forma como essa representação imagética no mundo virtual altera nossa percepção do mundo e nossa percepção sobre nós mesmos.

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Questionário
Entrevista com professor Marcelo Eduardo Leite

Figura2-Representação ilustrativa de uma câmara escura (do latim camara oscura). Fonte.

Figura3-CCD, ou charge-coupled device; sensor utilizado para capturar a luz e transformá-la em imagem digital. Fonte.

Autorretrato: primórdios da selfie

O autorretrato, gênero fotográfico aqui tomado como referência para analisarmos as ditas ‘Selfies’, possui sua origem, segundo estudos, com o fotógrafo\jornalista\ balonista francês Nadar (Figura4), em 1839. Pode-se dizer que os pioneiros do autorretrato, assim como Nadar, buscavam transmitir nas fotografias uma forma de representação de si, salientando características importantes de sua personalidade.

 

Essas características presentes no autorretrato podem ser consideradas, segundo Erving Goffman (1959), como as impressões dadas (given), ou seja, parte intrínseca do processo artístico performático, uma vez que o artista possui o domínio da arte e da técnica fotográfica para transmitir o conceito idealizado.

 

A tônica performática envolta nos autorretratos do século XIX e início do século XX não estavam ligados somente a uma construção imagética de si mesmo. A fotógrafa e diretora de cinema Cindy Sherman (Figura5) busca transmitir, através do autorretrato, um reflexo da visão cultural da mulher norte americana; Veja Como→.

 

A fotografia nunca deixou de ser uma representação, um recorte, uma narrativa imagética que revela o olhar do fotógrafo. No caso das selfies, esses autorretratos modernos potencializam ainda mais a ideia de autorrepresentação, uma vez que o elemento central retratado é o próprio fotógrafo, que numa manobra quase acrobática se inclui na paisagem e a manipula, buscando o ângulo de captura como melhor lhe convém.

 

Desde os tempos do finado Orkut que a prática de tirar fotos de si mesmo existia, só não tinha um nome tão cool quanto hoje. Segundo o Dicionário Oxford, que elegeu SELFIE como a palavra do ano em 2013 pelo uso desta ter aumentado em 17.000%, esse autorretrato moderninho é uma foto tirada de si mesmo através de um telefone celular ou webcam para ser compartilhada em alguma rede social. No espelho, no elevador, no banheiro, no quarto, na balada, no meio da rua, o clichê qualquer lugar é lugar torna-se literal nesse contexto.

Figura4-Nadar; Fotógrafo francês posando para um autorretrato. Fonte.

Figura5-Cindy Sherman; fotógrafa e diretora de cinema norte-americana, nascida em 19 de janeiro de 1954. Fonte.

Você pode conferir ao lado a entrevista com o fotógrafo e professor de Fotojornalismo da Universidade Federal do Cariri - UFCA, Marcelo Eduardo Leite.

Nesse bate-papo o professor expõe sua visão acerca dos chamados 'selfies' e os aspectos que dialogam com o campo da fotografia.

Cada áudio foi intitulado levando em conta o assunto tratado na entrevista.

Basta escolher o tema, dar o play e conferir o resultado.

SELFIE = SELF-PORTRAIT PHOTOGRAPH

(em português, autorretrato fotográfico)

Estudiosos têm considerado a selfie como uma forma de expressão e autopromoção no mundo virtual. Com milhares de aplicativos à disposição do usuário, é possível tirar manchas, espinhas e qualquer defeito, fazendo com que a foto possa sair (quase) perfeita. A progressão do número desse tipo de imagem deixa bem claro como estamos mais dependentes das tecnologias digitais. Hoje, a privacidade entrou em extinção.

 

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman escreveu diversas obras sobre a liquidez da sociedade moderna. Em Amor Líquido, ele deixa bem claro como o celular se tornou uma extensão de nós. “[...] você não iria a nenhum lugar sem o celular (‘nenhum lugar’ é, afinal, o espaço sem um celular, com um celular fora de área ou sem bateria). Estando com o seu celular, você nunca está fora ou longe. Encontra-se sempre dentro – mas jamais trancado em um lugar. Encasulado numa teia de chamadas e mensagens, você está invulnerável. As pessoas a seu redor não podem rejeitá-lo e, mesmo que tentassem, nada do que realmente importa iria mudar.”

 

De outubro de 2013 a janeiro de 2015, o Google Trends mostra que o interesse pelo tema cresceu em 100%. Antes, sair com os amigos numa sexta-feira à noite significava ir para o barzinho e jogar conversa fora até o dia amanhecer. Hoje, significa praticamente a mesma coisa, mas acrescentamos os smartphones como Companheiros também. Saímos para fazer check-in no Facebook. Jogamos conversa fora no Twitter, rimos e dançamos para gravar um vídeo para o Instagram.

 

A pergunta é: o que queremos provar? Segundo Tom Chatfield, escritor do livro Como viver na era digital, “em cafés e outros espaços públicos, aparelhos digitais pessoais são manuseados com a mesma atenção e a mesma frequência antes reservada apenas a um amigo ou a um animal de estimação. Para a geração dos chamados ‘nativos’ da era digital, o telefone celular é a primeira coisa que você pega quando acorda, pela manhã e a última a largar à noite, antes de dormir.”

Quantos 'likes' merecemos?

No Instagram, para curtir uma foto precisa-se clicar duas vezes na mesma ou uma vez no símbolo do coração abaixo da imagem. Coração, até onde a gente sabe, remete ao amor. Bauman diz que para termos amor-próprio, precisamos ser amados. E que forma maior de receber amor do público do que curtidas? Celebridades como Beyoncé chegam a ter mais de um milhão de likes em uma única selfie.

 

“Um dos ponto-chave da construção de redes sociais na Internet é, justamente, o fato de que os sistemas que as suportam permitem um maior controle das impressões que são emitidas e dadas, auxiliando na construção da reputação. Assim, uma das grandes mudanças causadas pela Internet está no fato de que a reputação é mais facilmente construída através de um maior controle sobre as impressões deixadas pelos atores. Ou seja, as redes sociais na Internet são extremamente efetivas para a construção de reputação. [...] Através da reputação é possível selecionar em quem confiar e com quem transacionar. A reputação é, assim, um julgamento do Outro, de suas qualidades”, explica Raquel Recuero, jornalista, pesquisadora e professora, em seu livro Redes Sociais na Internet.

 

O retorno é tido através da quantidade e não da qualidade. Pesquisas pelo mundo todo apontam que o ato de fotografar e também editar fotos está relacionado à auto-objetificação – quando uma pessoa se preocupa demais com a própria aparência.

 

Na cultura em que vivemos, onde ter rosto e corpo perfeitos é padrão de beleza, quanto mais selfies são postadas mais percebe-se que estamos nos inserindo mais ainda no conceito de que somos apenas imagem. Surge ai a selfie-objetificação (em inglês, self-objetification): apresentar a si mesmo como objeto. Nas redes sociais, somos um entre milhões. O que nos diferencia? Será o número de curtidas?

Em um questionário on-line, respondido por 70 pessoas (entre homens e mulheres anônimos), foram feitas per-guntas a respeito de selfie. O objetivo era compreender o que as pessoas entendem sobre esse tipo de fotografia e porque aderiram à moda. Confira os resultados:

Cena capturada do longa-metragem de animação "Big Hero 6", da Walt Disney Pictures, lançado em 2014.

Lidiane Almeida

Emerson Gomes

Pelas ruas, observamos pessoas com seus celulares apontados para si mesmas. Cada passo é um flash, literalmente. São cerca de 207.000.000 resultados no google quando pesquisamos a palavra selfie. E por que não transformar isso em tema de uma pesquisa? A ideia é mostrar a obsessão das pessoas pela imagem. Narciso se afogou num rio de tanto amor-próprio. Nossa geração está indo no mesmo caminho.

Vídeo-selfie ;p

Convidamos alguns estutantes da Universidade Federal do Cariri (UFCA) para expor seus pontos de vista sobre a moda selfie. Dá uma olhada:

Até o dia 08 de abril de 2015, às 21h02, a hashtag #selfie havia sido utilizada 254.982.271 vezes apenas no Instagram – deve-se levar em conta que nem todas as fotos são selfies mesmo (algumas são fotos de objetos, frases, paisagens, etc.)

 

A identidade do indivíduo está em constante modificação. Podemos afirmar, talvez, que é uma metamorfose ambulante. A aparência é um dos pontos de partida para conhecer uma pessoa - é o que se nota primeiro. Então, que forma melhor para nos exibir e mostrar como somos perfeitamente bonitos do que selfies? Nos conhecemos e nos desconhecemos ao mesmo tempo, porque, no mundo virtual, quem é você e quem somos nós?

Sobre os repórteres

Felipe Azevedo

Márcio Silvestre

Érica Bandeira

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